terça-feira, 27 de setembro de 2016

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Barreiras Sociais

 Os estereótipos e preconceitos em relação às pessoas com deficiência foram construídas ao longo da história e permanecem em nossa sociedade, dificultando a plena participação social das pessoas com deficiência e o seu desenvolvimento.
            Segundo a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência da Organização das Nações Unidas as pessoas com deficiência são:
aquelas que têm impedimentos de natureza física, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade com as demais pessoas (ONU, 2006, artigo 1º).

            Assim, como aponta Diniz, Barbosa e Santos (2009), a restrição à participação plena das pessoas com deficiência envolve principalmente a interação entre o corpo com impedimentos e as barreiras sociais, provocando desigualdades. Nesse sentido, a opressão vivenciada por muitas pessoas com deficiência não é devida aos impedimentos corporais, mas sim às sociedades não inclusivas.
Dois modelos básicos de entendimento da deficiência, como a segregação (Política do Avis-Struthio) e a medicalização (Política do Leito de Procusto), contribuíram para a manutenção dessas barreiras às pessoas com deficiência, gerando preconceito, discriminação e limitando as possibilidades de desenvolvimento, além da participação plena e efetiva na sociedade (GESSER; NUERNBERG, 2016).
            Em oposição à Política do Avis-Struthio e à do Leito de Procusto, temos o Modelo Social da Deficiência que não se foca nas limitações do corpo nem supõe a normatização deste, pois concebe as pessoas com deficiência como sujeitas de direitos humanos e as incluem na construção de políticas públicas voltadas para elas. Nesse modelo, a deficiência não está na pessoa, mas na sociedade. Dessa forma, a opressão que elas vivenciam não é devido à lesão corporal, mas às barreiras sociais que não consideram a diversidade (MELLO; NUERNBERG, 2016).
Nesse modelo, a deficiência não é considerada uma tragédia individual, um castigo ou o resultado de certo pecado; não é uma enfermidade que requer tratamento; não deve ser objeto de caridade, nem de ações sentimentais e condescendentes que só geram dependência. Em outras palavras a deficiência deixa de ser compreendida a partir de um campo estritamente biomédico confinado aos saberes médicos, psicológicos e de reabilitação, que associam a deficiência a uma condição médica ou a uma tragédia pessoal, e passa a ser também um campo das humanidades (GESSER; NUERNBERG, 2016, p. 181).
           
            Nesse contexto, outro ponto para refletirmos a fim de superarmos os obstáculos gerados pelas barreiras sociais e, consequentemente, a exclusão das pessoas com deficiência à participação social, refere-se ao desafio de fornecermos assistência a elas apenas quando necessário e da forma que cada uma precisa, tomando o cuidado para não torna-las dependentes em aspectos que elas não são, sempre incentivando o desenvolvimento de sua autonomia (GESSER; NUERNBERG, 2016).
Desta forma, precisamos romper com estereótipos e preconceitos em relação às pessoas com deficiência, na busca de uma sociedade inclusiva que reconheça o quanto podemos aprender umas(uns) com as(os) outras(os), que considere a interdependência, que reflita sobre a ética do cuidado, que enxergue as pessoas com deficiência enquanto sujeitos de direitos e que valorize de fato a diversidade, desconstruindo padrões e garantindo o direito de todas(os) à cidadania plena.

Referências
DINIZ, Debora; Barbosa, Lívia; Santos, Wederson Rufino dos. Deficiência, Direitos Humanos e Justiça. SUR – Revista Internacional de Direitos Humanos, 2009, p. 64-77. Disponível em: http://repositorio.unb.br/bitstream/10482/8216/1/ARTIGO_DeficienciaDireitosHumanos.pdf. Acesso em: 25 set. 2016.
GESSER, Marivete; NUERNBERG, Adriano Henrique. A inclusão de Estudantes com Deficiência nos Diferentes Níveis de Ensino: um desafio ético e político. Módulo VI – Especialização EaD em Gênero e Diversidade na Escola. Florianópolis, UFSC, 2016, p. 175-188.
MELLO, Anahi Guedes de; NUERNBERG, Adriano Henrique. Gênero e Deficiência: interseções e perspectivas. Módulo VI – Especialização EaD em Gênero e Diversidade na Escola. Florianópolis, UFSC, 2016, p. 189-214.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS [ONU], 2006. Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. Doc. A/61/611, Nova Iorque, 13 dez.

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

A pessoa com deficiência em minha história de vida

Nesse primeiro texto irei compartilhar minhas lembranças relativas às pessoas com deficiência, que mesmo me esforçando para resgatá-las, não são muitas.
Começarei pelo ensino fundamental, 6º ano (antiga 5ª série), sendo minha recordação mais antiga, além de única no ambiente escolar, enquanto aluna. Refere-se a uma colega de sala de aula com deficiência física e ao lembrar-me dela, tive como primeira imagem uma menina sentada num canto, sozinha, esperando terminarmos a aula de educação física. Também, algumas falas, inclusive de professoras(es), tais como: "ela é tão bonita, pena que é deficiente", "tão inteligente, uma pena...", "coitada", entre outras que expressam o sentimento de piedade e a ideia de inferioridade da pessoa com deficiência (sentimentos e ideias que também compartilhei por muitos anos).
Já no ensino médio, esperava todos os dias o ônibus para ir à escola. No ponto de ônibus, havia algumas crianças com deficiência que iam para a APAE (Associação de pais e amigos dos excepcionais) no mesmo horário. Gostava muito desse contato, apesar de breve, mas ainda matinha a concepção construída anteriormente.
Depois, fiz graduação e mestrado numa universidade federal e não me lembro de nenhuma pessoa com deficiência. Nenhuma! Algo para refletirmos... Além disso, apesar de ter feito um curso de licenciatura, em momento algum o tema inclusão foi abordado/discutido.
Quando comecei a trabalhar, numa escola particular, tinha uma amiga com deficiência e tenho muito a agradecê-la! Não apenas pela amizade, mas por ter e ajudado a iniciar o processo de desconstrução de algumas concepções e sentimentos referentes às pessoas com deficiência, entendendo que a deficiência está na sociedade, sendo limitações sociais.
Nesse semestre, depois de quase seis anos de IF, um aluno com deficiência visual ingressou no curso técnico em química. No momento não estou ministrando aula para a turma dele, mas tenho acompanhado o excelente trabalho que está sendo realizado, envolvendo várias pessoas. Certamente o conhecimento, a experiência e dedicação de uma professora do campus tem proporcionado muitos aprendizados e contribuído para  a superação das barreiras existentes (físicas, atitudinais, pedagógicas...).
Por fim, acredito que a desconstrução de preconceitos e estereótipos (são tantos construídos ao longo da vida!) seja um processo lento e contínuo, uma luta diária e que a busca de informação, conhecimento e a reflexão contribuam para que a cada dia me reconstrua!